domingo, 26 de setembro de 2010

O Brasil cresce a mais de 7%, com a inflação sob controle. Como é possível?

Doutora pela London School of Economics e professora da PUC-Rio, a economista Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria e considerada "herdeira" do professor Dionísio Dias Carneiro, diz que o Brasil está se beneficiando dos efeitos da crise global: conseguindo se financiar com capital externo e importando produtos baratos. Assim, cresce sem inflação.
Para Monica, que trabalhou por cinco anos no Fundo Monetário Internacional (FMI), é um "efeito Toyota", em que o Brasil permanece agarrado ao acelerador - em alusão às falhas dos veículos Toyota que provocavam uma aceleração inesperada e levaram a um gigantesco recall da montadora.
Mas ela alerta: há risco de se desconstruir o arcabouço macroeconômico que garantiu a estabilidade dos últimos anos, sobretudo pelo avanço do setor público no crédito.
O Brasil cresce a mais de 7%, com a inflação sob controle. Como é possível?
Para entender esse quadro particularmente auspicioso, de crescimento em alta e inflação relativamente controlada, temos de levar em conta o panorama de mundo relativamente fraco nos próximos anos.
As taxas de juros globais, por causa dessa situação de crescimento anêmico, vão permanecer baixas por um tempo. A inflação global também vai permanecer baixa. Então não tem canal de inflação importada.
Adicionalmente, tem um canal favorável ou desfavorável, dependendo do ponto de vista, para as perspectivas de câmbio, porque o diferencial de juros entre o Brasil e o resto do mundo vai continuar alto, mesmo que o Banco Central decida baixar juros.
Com isso, há um fluxo de entrada de poupança externa que garante um câmbio no mínimo do patamar atual, se não um pouco mais valorizado.
Então, mesmo que a gente tenha uma demanda doméstica crescendo a taxas altas - nos últimos dois trimestres, foi a mais de 8% - há um componente de supressão de inflação que está sendo importante para o Brasil.
A demanda forte não tem consequência sobre inflação, mas estamos vendo uma forte deterioração da conta corrente.

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