terça-feira, 28 de outubro de 2008

Em Raul Soares era difícil saber o que era mais interessante: se era o que acontecia no circo ou as loucuras que aconteciam fora do espetáculo:

Um causo acontecido na década de sessenta e os envolvidos estão quase todos vivos:
_Ele estava mais decidido do que nunca e preferiu - achando melhor - não falar nada prá ninguém: levava uma bicicleta e uma garota de menor, uma caixa de ferramentas, vestia calça azul, camisa verde e calçava botas de couro marrom e, a garotinha bonita por demais usava um micro-short desfiado nas pontas que foi cortado de uma calça jeans e, os restantes, esqueceram de prestar a atenção... Foi dito pelos poucos que chegaram a prestar a atenção no mais novo casal caírem no capinado... (foto ao lado da mulher que foi trocada pela trapezista do circo. A trapezista voadora que adorava aparecer )
Disseram que parecia que o casal estava partindo para nunca mais voltar. Não sei por que o novo casal não teve o desprazer de contar uma desgraça desse tamanhão para a sua esposa - uma recém casada com menos de oito meses de gravidez...! Os vizinhos preocupados nunca viram uma mulher ficar andando de bicicleta grávida quase na hora de ganhar... Diz ela que se for homem terá o nome do pai porque tinha sido combinado. O padre falou para o delegado que estava achando que a Janaina ficou meio descompensada, e, na confissão, a infeliz da vida mais chorou do que falou.
Na boca maldita de alguns vizinhos - a também bonitona tem certeza que o marido lhe abandonou de vez porque ele estava cada vez mais estranho e frio. Ela tinha quase certeza que foi depois da gravidez. Teve um dia que ele bebeu demais e disse que ela estava gordinha, e, que por qualquer motivo ficava deixando um copo quebrar na pia. O certo é que até agora ela não sabe direito para quê fugir com a "tal mocinha do circo" que andava no trapézio e que não tem nenhuma experiência de mais nada - ela queria mesmo ver será na hora de lavar as cuecas dele e aguentar as suas manias e ainda ele dizer que um tapinha não dói. Ele está crente que vai ficar bonito demais e fortão para o resto da vida.
Falando igual uma lavadeira em dia de chuva disse também que agora tudo está mais claro - todos os dias que o circo esteve na cidade o marido não perdeu nenhum dos espetáculos. Todas as noites saia todo cheiroso e sempre olhando no espelho e penteando o cabelo e, quase tudo era motivo para ficar assoviando. E chegou a falar o nome dela no sonho: ele disse prá despistar que era o nome de uma antiga colega de escola que tinha sido sua namoradinha e que não tinha passado de um namorico bobo.
Parece que ela está bastante decidida e disse para a sua mãe e para a sua madrinha que agora não lhe interessa mais nada: se ela fugiu com ele montada na garupa ou fugiu com o seu ex-marido montada no quadro - para aquele papa anjo ficar assoprando na nuca dela e ela toda arrepiada da cabeça aos pés e, eu tenho certeza, ela não vai resistir e vai acabar virando prá trás só prá ser beijada e mais um montão de outras coisas. Eu já assisti esse filme. Uma dó não perder a direção e caírem na ribanceira. Se ela pegar os três vai acabar com todos. A culpa só pode ter sido da bicicleta mais bonita de todas. A desenvergonhada do trapézio apaixonou parecendo (talvez) ser uma carência paterna, disse outro dia um psicólogo na Rádio Aparecida, num caso mais ou menos parecido.
Agora todos os dias e às vezes até de noite quando o sono não chega, ou o danado do sono some a esposa não sai mais da janela esperando o marido voltar: sozinho e Deus, e a bicicleta.
Mais de seis meses já se passaram... Em compensação já tem alguém interessante de olho nela e ela não tem olhos prá ninguém pelo menos por enquanto. Seriam eles os candidatos mais fortes: o viúvo que mora na esquina ou aquele bonitão da rua de cima que é professor de matemática e literatura.
Se dependesse da mãe dela e da madrinha e do padre.
Corre o risco de quando o maridão resolver voltar - seja muito tarde - e acabar encontrando um outro na cama que tinha sido dele. Aquela mesma cama que todas às noites ela fazia questão de trocar o lençol e as fronhas e sem contar um montão de outras coisas bonitas que não consegue esquecer.

2 comentários:

Anônimo disse...

Júlio Nesce, a sua história que parece verdadeira daria um filme interessante. Parabéns. Procure contar mais histórias no seu blog.

Anônimo disse...
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