As grandes corporações globais estocaram algo em torno de US$ 8 trilhões --o que dá mais de quatro vezes o tamanho de toda a economia brasileira-- prontos para investir assim que a confiança no sistema econômico global for plenamente restabelecida após a crise de 2008/2009.
O cálculo foi apresentado no sábado em Davos por Robert Diamond, executivo-chefe do grupo Barclays, um gigante do mundo financeiro que tem 49 milhões de clientes em mais de 50 países.
Como é óbvio, trata-se de uma boa notícia, ainda mais que tanto os números do Fundo Monetário Internacional como os debates durante o encontro anual 2011 do Fórum Econômico Mundial indicam que a crise ficou para trás. Logo, a confiança já está retornando e tende a se acentuar este ano.
O dinheiro, portanto, pode começar a fluir, no momento em que o Brasil tem imensas necessidades de financiamento, as de sempre e as conjunturais representadas pelas obras para a Copa de 2014 para as Olimpíadas de 2016.
Mas essa montanha de dinheiro carrega também um risco, exposto por Montek Ahluwalia, vice-presidente da Comissão de Planejamento da Índia, outro gigante mundial, cujo crescimento para o próximo ano fiscal (começa em março) deverá alcançar 9%:
"Não queremos ser o depósito de capital de curto prazo. Mas estamos abertos para fluxos de longo prazo".
É rigorosamente a mesma posição exposta na véspera por Luciano Coutinho, o presidente do BNDES, em nome do governo brasileiro.
Capitais de curto prazo trazem o risco de sobrevalorizar a moeda do país depositário (como acontece no Brasil) e também o de provocar bolhas de determinados ativos.
Foi o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos que funcionou como estopim para a crise que se transformou na maior desde a segunda guerra mundial, encerrada há 65 anos.
Em meio ao otimismo exalado este ano em Davos, permanecem as sombras. Na quinta-feira, uma alta autoridade europeia, pedindo reserva do nome, avisara que a caixa preta do sistema financeiro - considerada a principal causa da crise - ainda não estava decifrada, o que poderia dar margem a uma nova crise.
No sábado, Wolfgang Schäuble, ministro de Finanças da Alemanha, o país europeu que cresce mais robustamente (3,6% no ano passado), advertiu que permanecem no cenário global fatores de risco: "Muito pouca regulação [do sistema financeiro], déficits muito altos dos governos, e excesso de liquidez".
A questão da regulação é permanente tema de debate desde a crise e já foram aprovadas princípios de cautela, batizados de Basileia3 (da cidade suíça que é a sede do Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais, responsável pelo pacote). Mas não entraram em vigor ainda e nem parecem suficientes para evitar nova crise.
"A regulação não está desenhada para a próxima crise, e haverá uma próxima crise", decreta Robert Zoelick, presidente do Banco Mundial.
Enquanto a nova crise não vem, se é que de fato virá, a maior preocupação em Davos foi com a inflação. O indiano Ahluwalia dá um exemplo eloquente: "A Índia crescerá 8,5% no ano fiscal que termina em março, mas a inflação será também de 8,5%", portanto insuportavelmente alta.
Segunda grande preocupação: eventual calote de países da eurozona. Por isso mesmo, Davos-2011 foi o cenário para que chefes de governo e ministros de países europeus fizessem pequenos comícios de otimismo em torno do euro.
A francesa Christine Lagarde, ministra de Economia, deu números para tentar demonstrar que o cenário europeu não é de catástrofe: o déficit público dos 16 países da eurozona é, na média, de 6,4%; a dívida está em 84% do PIB e o crescimento ficará entre 1,6% e 1,7%.
Nada que se compare com China e Índia, mas também não chega a ser o suficiente para levar a um colapso.
Tudo somado, o ambiente deste grande convescote das elites globais é de otimismo temperado com cautela. A crise foi tão brutal que todo o mundo continua com as barbas de molho.
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