segunda-feira, 20 de abril de 2009

Houve um tempo em que uma mesa de bar era formada por um comunista, um liberal, um existencialista e um que adorava ser sempre do contra. E hoje:

Um amigo muito dos críticos me disse que antigamente era mais divertido: que ouve um tempo em que uma mesa de bar era formada por um comunista, um liberal, um existencialista e aquele que adorava ser sempre do contra...
E hoje o amigo - assenta no boteco e olha ao seu redor - está no meio de uma bipolar, uma obsessiva compulsiva, uma depressiva, uma maníaca e uma amiga que se diz normal, muito normal e faz questão de dizer que a ordem dos tratores não altera os viadutos...
Se na velha mesa o assunto era o barbudo fumador de charutos, aqui também, só que aquele atendia por Fidel, e este, por Freud. Não há uma bunda naquela mesa que nunca tenha sentado num divã ou defecado algum resíduo de tarja preta, nem que tenha sido um lexontanzinho básico, tomado com o inocente intuito de curar qualquer um baixo astral possível ou mais ou menos impossível.
Recomendam psiquiatras como se recomendassem restaurantes, analisando atendimento, preço e até localização, que a obsessiva-compulsiva julga ser fundamental, pois se acabar o remédio ela pode pegar a receita em cinco minutos e ir correndo para a farmácia. Ou melhor, saltitando, já que moça só consegue andar na parte preta da calçada. O bipolar concorda e conta que, graças à sua enfermidade, já ganhou do programa de recompensas da farmácia um liquidificador, uma batedeira e uma centrífuga; mais um pouco e tem um enxoval completo, o que não quer dizer muita coisa, já que ele também é gamofóbico (para os leigos: tem fobia de casamento).
O que recebe agora é uma fluoxetina, seguido de um “experimenta, a onda é boa, e você nem precisa se esconder no banheiro”. E ele lá precisa de remédio? Precisa sim, querida, uma pessoa que come todos os pastéis da mesa e depois chupa o caroço da azeitona só pode estar sofrendo de ansiedade crônica. O amigo muito dos gozadores não sabe se estamos mais doentes, mais diagnosticados ou os dois. O que sabe é que estamos mais individualistas e patologicamente corretos. Ninguém vai sair fazendo barricadas ou quebrando guitarras no palco, afinal esses são atos de violência gratuita, coisa de gente não analisada.
O nosso amigo de fé e nosso irmão camarada é muito dos engraçados...

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